• Julius Wiedemann: A arte de perder o controle

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    via Revista Webdesign de Luis Rocha em 01/03/10

    Julius Wiedemann, colunista da Webdesign*No mês de março, com a circulação da edição especial “Catálogo Portfólio”, estamos publicando os artigos dos nossos quatro colunistas no site da revista.

    Julius Wiedemann nasceu e cresceu no Brasil, onde estudou Design e Marketing (sem terminar) até que teve a oportunidade de ir para o Japão. Trabalhou como designer de revistas e jornais até se tornar editor de arte e posteriormente editor) de uma editora japonesa. Em 2001, a editora alemã TASCHEN o contratou para ser o editor responsável pelas áreas de design e pop culture. Por lá, desenvolve o programa de títulos nas áreas de propaganda, graphic design, web, animação etc.

    A arte de perder o controle

    Perca o controle, ganhe a mundo. Se você não pensar assim, não só vai entender como as novas formas de comunicação funcionam, mas poderá também descobrir um mar de oportunidades de obter informações valiosas, de maneira genuína.

    Alguns dos principais pilares das empresas são certamente os processos e os controles de tudo que faz parte de suas operações: de compras a recursos humanos, da produção a logística, da comunicação ao planejamento.

    Não deixa de ser irônico que as mais modernas tecnologias estão obrigando as empresas a repensarem a forma de ver como os novos modelos de comunicação funcionam, muitas vezes, num sistema que para funcionar necessita de total ou parcial perda dos mecanismos de controle justamente em certas áreas de controle.

    Quando o assunto é informação, a questão é séria. O livro Wikinomics oferece uma quantidade grande de exemplos valiosos de como empresas estão começando a dividir e a abrir seus canais de comunicação para poderem inovar de forma mais rápida. Poderia se dizer que muitos controles já foram perdidos há bastante tempo com o fim do monopólio dos meios de distribuição de conteúdo.

    Hoje, todos somos consumidores, produtores e distribuidores de informação ao mesmo tempo. Com celulares na mão e conexões de internet cada vez mais à nossa disposição, estamos chegando próximo de um fluxo de informação “real time”. Mas fazer esse “mind shift” pode não ser nada fácil para empresas onde tudo até então funcionou com uma lógica inversa, de controle absoluto.

    Se olharmos para muitos dos sucessos da internet nos últimos anos, vamos ver que esse fluxo livre de informação é um dos principais fatores contribuintes para o desenvolvimento do mercado “digital”. Neste cenário, o YouTube é um clássico! Capitalizando na democratização da banda larga pelo mundo todo, eles montaram um site relativamente simples, que permitia que qualquer pessoa desse o upload de vídeos, sem o controle sobre o conteúdo, que seria feito através de denúncias dos próprios usuários e minimamente pela própria equipe.

    Isso permitiu que as pessoas se sentissem muito mais livres para usar o site e o resultado já faz parte da história da internet. Como não pode ter tudo sempre, o YouTube também passou a enfrentar enormes problemas legais relacionados com os direitos autorais do material colocado por lá, mas já tinha crescido tanto, e em tão pouco tempo, que passou a exercer um poder enorme sobre uma nova forma de se ver filmes e vídeos.

    Recentemente, no Brasil, a AgênciaClick criou um projeto de um carro para a Fiat com diversos inputs de consumidores. A ideia era uma genuína troca de informação com os consumidores a fim de criar um carro melhor, que demandava trabalho também por parte desses potenciais compradores. O compromisso da empresa fica com o lançamento do produto. A ausência dele poderia deixar a empresa sem credibilidade e por isso ela também fica “obrigada” a ir até o final. Mais uma vez o autocontrole é exercido de maneira saudável.

    Eu mesmo sou afetado todos os dias por essa liberdade de informação. Leitores de todo o mundo, que compram os livros que eu edito, postam diariamente comentários em blogs, nos sites de compras, no Twitter e em grupos de discussão. Isso me obriga a fazer um trabalho cada dia melhor, pensar cada vez mais no meu leitor e entender que, se eu quiser que alguém compre um livro meu, eu não estarei fazendo isso para mim, e sim para os leitores. Além disso, me força a ter a humildade de ter que ler comentários genuínos, positivos e negativos, sobre o que eu faço. Pode ser duro, mas é certamente uma maneira excelente de gerar eficiência, qualidade e um autocontrole.

    Sistemas híbridos, como a Wikipédia, também são sempre um bom exemplo de um meio termo, ou seja, uma não completa ausência de controle e um mínimo necessário para se manter uma qualidade alta de serviço.

    Não me parece exagero dizer que estamos caminhando para uma democracia (em algumas partes do mundo) cada vez mais forte, com o poder realmente retornando para as mãos dos cidadãos. Em países onde o uso da internet está restrito a certos setores e censurado em outros, eu tenho certeza que o futuro vai ser sombrio, com consequências sérias na capacidade de inovação.

    A não possibilidade de trocar, produzir e contestar com liberdade será o maior desafio ao crescimento no futuro. A absorção e a apropriação do novo têm que passar por um constante questionamento. As consequências do aprisionamento da informação podem ser devastadores, como já vimos com o fim do comunismo e em diversas ditaduras.

    Isso não é uma tentativa de incentivar a abolição de todas as regras e normas. Muito pelo contrário. Elas nos darão sempre alguma segurança. A ideia é estarmos preparados para uma mudança constante nas regras do jogo. A única constante é exatamente a mudança. Eu morei na Alemanha quase seis anos, continuo trabalhando para uma empresa alemã (a www.taschen.com) e sei o quanto processos são importantes. Foi lá que eu aprendi sobre performance e qualidade.

    Como mencionei antes, esse novo fluxo livre de informação é, de certa forma, uma nova maneira de um “autocontrole”, exercida agora por uma quantidade maior de pessoas e instituições. Por isso, trabalho hoje de maneira completamente remota. Perca também o medo de abraçar essa ideia e você poderá encontrar um futuro surpreendente.


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