• Temos um problema e precisamos de ajuda…

    A pior crise é a invisível – Nepô – da minha coleção de frases;

    Este é  primeiro passo de qualquer grupo de mútuo ajuda.

    O AA e similares têm, como já disse aqui, uma importância grande para o mundo das redes sociais.

    É um exemplo vivo e presencial de tudo que estamos vivendo na Internet.

    Pessoas com problemas, que sozinhas não conseguiam resolvê-los e se organizam para co-criar saídas.

    As taxas de recuperação destes grupos estão bem acima de qualquer tipo de tratamento, pois são baseados no diálogo e na troca de experiências bem focadas em cima de dado problema.

    (Quem quer aprofundar o tema, sugiro o livro “Levar Adiante“, que conta a trajetória de Bill Wilson, um dos fundadores do AA)

     

    Bill Wilson

    Bill Wilson

    Muito bem.

    O problema da humanidade hoje é o excesso de informação.

    Que vem da necessidade de administrar um planeta – que não para de crescer – com 7 rumando para 9 bilhões de almas carentes para consumir do básico ao supérfluo.

    Ou seja, temos um problema e precisamos de ajuda….

    Os malucos tais como o Nicholas Carr afirmam que a rede está nos tornando mais rasos e idiotas. (Saiu na Época Negócios, link fechado por senha.)

    Ele tem e não tem razão.

    Quando o livro impresso estourou na Europa de 1450, um pensador, conseguia ter lido quase tudo que tinha sido registrado até então.

    Era um cara para poucos livros.

    Um cara menos idiota, talvez.

    Depois que o livro se multiplicou virou muitos livros para poucos caras.

    Todos cada vez mais rasos, por força das circunstâncias.

    O que fez com que construíssemos as disciplinas para que cada um pudesse ler razoavelmente o que era importante naquela área.

    O problema que quanto mais fomos lendo daquele tema, mais fomos nos aprofundando e  perdendo a noção do todo.

    Deixamos de lado os problemas e passamos a ser especialistas em assuntos.

    O que nos leva a nos perder, pois os assuntos sem problemas, é uma verdadeira masturbação mental.

    E um problema dividido por assuntos é uma piada, pois uma crise não vem formatada por assunto.

    Quando estoura um vulcão, ele estoura…e não pede licença para nenhuma teoria.

    Ou se junta para resolver, ou ba-bau no mingau!

    Gosto da frase:

    “O cara que só conhece química, não conhece nem química.”.

    E como saímos da sinuca de bico?

    Temos um problema e precisamos de ajuda!

    Hoje, por mais que não queiramos seremos sempre rasos e incompletos.

    Isso é um fato.

    E se quisermos ser profundos podemos cair na armadilha de perder a noção do todo.

    Ou seja, o mais importante é ver o todo, assumir que seremos rasos, e montarmos uma estratégia de juntar, como fez o AA, os rasos para serem menos rasos.

    Quanto mais diferentes, melhor, pois mais vasta será a abordagem.

    É o que embala a web desde então.

    Grupos, coletivos, comunidades disso e daquilo.

    Hoje, se resolve os mega problemas, Aids, Genoma, Reator de Partícula, em cooperação, em grupo.

    Ou mesmo o Linux, o Apache, o Mozila, os softwares para o Iphone…

    Gente trocando para poder sair desse tiroteio de cegos 2.0.

    A saída do mundo é a colaboração para que possamos sermos menos rasos e um pouco mais profundos, através de coletivos menos burros e em alguns momentos inteligentes.

    Perceber em cada parte o todo.

    E o todo em cada parte.

    (Como sugere Senge e co-autores, no livro Presença.)

    Todos focados para solução de problemas.

    Esquece assunto, caixa, departamento, especialização!!!

    (Tem aquela do cardiologista que disse: “Pelo menos, ele não morreu de ataque cardíaco.”) :)

    Para isso, ao invés de ir na direção que estamos, consumindo informações de nível 3 – fofocas – temos que subir o nível 1, na direção holística.

    • + filosofia
    • +história
    • + conhecimento geral

    Deixando que as migalhas, de nível 2 e 3, ou peças do lego, possam ir se encaixando dentro de um coletivo, que vai se formando com essa visão do todo.

    (Já que é possível ver o todo em cada parte, mas nunca a parte, sem ter noção do todo.)

    Com nossa revisão e apoio do ego 2.0, co-criador.

    Se tivermos dúvidas de como devemos fazer isso, basta aprofundar a literatura e a experiência dos grupos de mútuo-ajuda, que já funcionam há quase 100 anos.

    E mostram que quando se tem um grande problema insolúvel, só a co-criação, o diálogo e a redução do poder do ego 1.0, (afundado em senso comum), podem ajudar.

    Que dizes?

    Diário do blog:

    • (Quem falou mais sobre AA também é o pessoal do livro “Quem está no Comando?“, que fala de redes descentralizadas.)
    • Este post é uma reciclagem deste, reescrito com outra roupagem, mas quer dizer quase a mesma coisa.
    • Um artigo que fala dessa necessidade de união para a solução de problemas saiu na Folha, de ontem, “Acelerador de Gente” destaco em vermelho:

    A o visitar o LHC (Grande Colisor de Hádrons) em abril de 2008, o físico escocês Peter Higgs pôde contrastar sua dimensão humana com a escala gigantesca da maior máquina já construída pela humanidade.

    Se a hipótese de Higgs estiver correta, os dados que começaram a jorrar nas últimas semanas do LHC fornecerão a última peça no quebra-cabeças do modelo padrão, a teoria da física que explica a matéria. Mas a saga do LHC é resultado do trabalho de gerações de pesquisadores, cujos nomes finalmente se diluirão na “simbiose homem-máquina” de um novo paradigma, pela primeira vez realmente global, de cooperação cientifica.
    Para Karin Knorr Cetina, professora de sociologia do conhecimento da Universidade de Konstanz, Alemanha, o experimento é, antes de tudo, um “laboratório humano” numa escala sem precedentes na história da ciência moderna.
    Cetina passou 30 anos observando os pesquisadores do Cern (Centro Europeu de Física Nuclear), laboratório na Suíça que abriga o LHC, numa espécie de estudo “etnológico” da tribo dos físicos, seus usos e costumes. Segundo ela, noções tradicionais na ciência, como carreira, prestigio e autoria, deixam de ter qualquer significado no modelo de produção de conhecimento do Cern.
    Da Universidade de Chicago, EUA, onde é pesquisadora visitante, Cetina falou à Folha:

    FOLHA - O que há de novo na forma de produzir conhecimento no Cern, e como isso se compara com as humanidades?
    KARIN KNORR CETINA
    – O novo é a dimensão, a duração e o caráter global do experimento. A estrutura dos experimentos é um experimento em si mesmo, com um caráter antecipatório de um tempo global e de uma sociedade do conhecimento.
    Poderíamos, talvez, fazer uma comparação com aquele espírito arrojado e inovador no desenvolvimento do supersônico Concorde nos anos 1960, que sinalizou uma ruptura de época. Mas não se pode responder com uma simples frase ao “como” esse experimento é coordenado.
    Há muitos mecanismos particulares que sustentam o projeto e o transformam numa espécie de “superorganismo”, na íntima colaboração de mais de 2.000 físicos com o gigantesco LHC, que eles mesmo projetaram e no qual, finalmente, trabalham juntos.
    Um mecanismo muito importante são as publicações coletivas em ordem alfabética.

    Quem é privilegiado não é o “gênio”, o autor, ou pesquisadores destacados em suas áreas.

    Um outro mecanismo é que o experimento mesmo, e não os autores, é “convidado” para as conferências internacionais.

    Os atores individuais são apenas os representantes daquilo que produziram em conjunto. Um outro mecanismo é que os participantes se encontram, por exemplo, durante toda uma semana no Cern, e esses encontros são organizados de tal maneira que todos possam e devam ser informados sobre tudo que ocorre. Estabelece-se, assim, uma espécie de consciência coletiva do “conhecimento compartilhado”.
    Como poderíamos comparar isso com as ciências humanas? Alguns diagnósticos de época importantes, de historiadores e filósofos, por exemplo, ainda encontram ressonância na opinião pública, mas, infelizmente, a estrutura e a segmentação da pesquisa nesse campo do conhecimento não tem mais nada de interessante a oferecer. A sociologia tradicional não sinaliza mais para a frente.

    FOLHA - Depois de muitos anos de pesquisa de campo em laboratórios como uma etnógrafa da ciência, como se diferenciam as culturas científicas diante do papel do indivíduo?
    CETINA
    – A biologia molecular, que acompanhei por muitos anos, é uma ciência “de bancada”, na qual, por regra, poucos pesquisadores trabalham juntos, na qual também se produz e publica em coletivo, mas não em ordem alfabética. O papel do pesquisador individual ainda permanece importante.
    Isso leva, como sabemos, a conflitos em torno de autoria e quem está em que posição na publicação. A física de altas energias procura, em contrapartida, liberar a cooperação, na qual é o conjunto que está no ponto central. O fio condutor não é mais a carreira, mas o resultado cientifico. O acelerador é o elemento dominante, pois ele somente pode ser construído e avaliado por muitos.

    FOLHA - Seria a natureza mesma do projeto incompatível com um novo “insight” individual que poderia mudar tudo de forma imprevisível?
    CETINA
    – É bem mais provável, no caso do Cern, que a pesquisa em equipe deva produzir excelentes resultados empíricos. Muitos pesquisadores em sociologia e nas humanidades, de maneira geral, produzem resultados parciais, fragmentados, que não se agregam dentro de um sistema numa perspectiva cumulativa -não porque a natureza do social seja fragmentada, mas porque nossa maneira de conduzir pesquisas, nossas convenções de pesquisa, não se agregam.
    Em muitas ciências empíricas devemos investigar no processo cooperativo -já que na natureza todas as partes de uma sistema se interrelacionam- ou todo o sistema ou saber qual é, realmente, a parte central desse sistema que deve ser isolada e destacada. Esse reducionismo experimental não pode ser levado a cabo na ciência social por motivos éticos, por se tratar de pessoas em sua integridade, que não podemos reduzir a células de cultura. Para tanto, seria necessário muito mais cooperação e pesquisa.

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