A hierarquia na abundância
mar 22nd, 2010 by Carlos Nepomuceno
As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto nas empresas como nas escolas - Pierre Lévy – da minha coleção de frases;
Estava em um cliente e ouvi a seguinte frase:
“Estamos entrando num mundo sem hierarquia”.
Ponderei logo depois para a cliente que não era bem isso e reproduzo aqui minhas reflexões, a partir de lá.
Existem algumas premissas para fazer essa discussão:
- 1- sempre vivemos em rede sociais, desde que estávamos na caverna;
- 2- estas redes dependiam e dependem de ambientes de comunicação e informação para sobreviver, variando pelas tecnologias de comunicação e informação disponíveis;
- 3- sempre estabelecemos hierarquias dentro destas redes sociais, de forma mais ou menos flexível, conforme a necessidade de inovação daquela determinada sociedade;
- 4- a internet é mais uma das muitas mídias de comunicação e informação disponíveis, que introduz mais flexibilidade à rede social;
- 5- entretanto, apesar de mudar o tipo de forma de hierarquia, deverá existir, pois há uma limitação da capacidade e dos talentos de cada um para colaborar na rede;
- 6- como tendência, teremos mais flexibilidade, em uma hierarquia mais dinâmica, mais fluida, mas com uma dada hierarquia, baseado em critérios mais meritocráticos, para ganhar dinamismo.
Da mesma maneira que o ambiente de conhecimento do livro impresso flexibilizou a hierarquia da Igreja e da Monarquia e introduziu o capitalismo no mundo, a Web forçará uma hierarquia mais aberta.
(Mas note que nem sempre é assim, no livro, Quem está no comando – Ori Brafman o autor analisa redes diferentes como a dos Apaches, dos Alcoólatras Anônimos e mostra que o dinamismo e a organização mais flexíveis não dependem apenas das tecnologias utilizadas. Ou seja, a Web ajuda, mas por trás da tecnologia deve existir um conceito. Que é mais ou menos premente, a partir da necessidade de inovar daquele determinado grupo. Ver mais sobre a relação de rede com inovação aqui)
Na Web, essa hierarquia pode ser vista na relação de seguidores e seguidos.
De sites mais visitados e menos visitados.
Uns exercem, a partir de uma lógica mais meritocrática, determinados papéis na topologia da rede.
Isso é fruto de uma limitação e de uma organização necessária para dar relevância e sobreviver.
O ser humano tem uma capacidade limitada de receber informações e agir.
Portanto, precisa priorizar.
E para priorizar necessita basicamente de filtrar e criar prioridades.
De funções, tempo e de atividades.
Qualquer mundo que nós entremos será regido por essa limitação.
E será estabelecida algum tipo de hierarquia mais ou menos flexível.
Algumas coisas e pessoas terão mais relevância que outras, pois não podemos dar atenção a tudo!
A não ser que inventem outro ser humano.
Com o mundo entrando em um novo ambiente de conhecimento, por sobre o “sistema operacional” da Web, está se viabilizando, por necessidade, a passagem da hierarquia “A” para a ”B”.
Como é um modelo um tanto diferente daquele que conhecemos, achamos que é um modelo “sem hierarquia”.
Ou caótico, mas tem suas regras.
Vamos ao conceito, no Houaiss.
Hierarquia:
“Organização social em que se estabelecem relações de subordinação e graus sucessivos de poderes, de situação e de responsabilidades”
No mundo 2.0, estamos precisando de oxigênio e dinamismo.
Assim, a nova hierarquia estará mais baseada no mérito, do que nas funções, pois o que interessa é quem pode naquele momento ajudar a resolver dado problema, independente qualquer cargo.
Não estamos no mundo sem responsabilidades, mas de um novo tipo de responsabilidade, mais compartilhada, para se ganhar dinamismo e, portanto, inovação.
O mundo 1.0 foi um mundo de desperdícios de talentos.
Esses talentos são necessários agora para resolver a crise de inovação produtiva em que estamos.
Perde-se tempo, energia e dinheiro produzindo coisas que não serão utilizadas nas pontas.
E perde-se tempo, energia e dinheiro quando o que precisa ser consertado depois do uso, não o é.
A nova hierarquia tratará de dar voz a quem não tem para evitar estes desperdícios. E, assim, ampliar o valor da troca.
O atual modelo hierárquico, baseado na estrutura vertical rígida, tem se mostrado incapaz de resolver a crise de inovação produtiva do mundo moderno.
Assim, estamos criando outro modelo hierárquico mais horizontal, porém, com novas regras de relevância.
- Antes, tínhamos poucos canais e tudo que era publicado tinha muita atenção. Controlava-se, assim, a publicação, os canais.
- Agora, temos muitos canais e tudo que é publicado tem pouca importância e atenção. Deixa-se publicar e só vai avaliar aquilo que tem relevância ou chama a atenção.
O que ninguém lê, não importa.
Nem num caso, nem no outro, por motivos diversos.
- Assim, no mundo digital 2.0, publica-se para editar.
- No mundo 1.0, editava-se para publicar.
Lá, o controle era do que ia ser publicado.
Agora, é saber o que é relevante naquilo que já foi publicado.
A hierarquia descentralizada agiliza os processos;
Forma novos líderes;
E dá voz a quem não tinha.
O objetivo?
Reduzir o desperdício da produção de bens e serviços, interno ou externo das organizações sociais, permitindo a revisão permanente para a atender a demanda mutante de 7 bilhões de almas que não param de copular e crescer.
É isso.
Que dizes?
(Vi que o tema a nova hierarquia na Web também apareceu neste debate do Campus Party.)
Posted in Empresa 2.0, Governo 2.0
-
A hierarquia na abundância
via nepo.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários → A hierarquia na abundância
Postar um comentário