• Estamos “cadastrados” em redes sociais desde pequenos

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    via Tiago Dória Weblog de Tiago Dória em 07/03/10

    É engraçado, sempre que saímos de eventos sobre web, ficamos com a impressão de que fazer parte de uma rede social é uma condição nova para o homem. Agora a vida é em rede. Estamos conectados. Mais um aspecto “revolucionário” que veio com a internet.

    No entanto, as coisas não são bem assim para os pesquisadores norte-americanos Nicholas A Christakis e James H. Fowler. Os dois juntaram tempo e  forças para provar por A mais B que o ser humano sempre esteve em rede. Aliás, a coisa é mais profunda, não existem pessoas sem redes sociais. O homem nunca foi uma ilha. Estar em rede é humano.

    Parece ser meio óbvio mas, numa época em que em cada esquina surge um “especialista em redes sociais”, é algo que se destaca em meio a tantos registros. O Poder das Conexões (336 páginas) é o primeiro livro de Christakis e Fowler, em que juntam essas e outras provocações.

    Os dois provam que você não precisa se focar em Orkut e Facebook para falar de redes sociais. Partindo da premissa de que as redes sociais não se resumem a plataformas online – o local de trabalho poder ser  uma rede social, sua família é uma rede social (em escala menor, mas com laços fortes) -, os dois pesquisadores atacam em diversas frentes em seu livro.

    Primeira, se estar em rede é uma condição ’sine qua non’, nossas responsabilidades aumentam. Citando a Regra dos Três Graus, Christakis e Fowler provam que o que fazemos aqui pode repercutir em uma pessoa que está até a 3 graus de separação da gente.

    Temos uma capacidade de influência que muitas vezes não percebemos. Se o amigo do seu amigo parou de fumar, pode ser que isso influencie você a também parar. Por outro lado, se estamos deprimidos podemos passar essa condição para a amiga de seu amigo, mesma que ela seja desconhecida para você. Igual a um vírus, transmitimos sem perceber.

    Segunda, as redes às quais estamos ligados nos moldam. Tudo é influenciado pela redes de que fazemos parte. Desde escolhas políticas até com quem gostaríamos de fazer sexo.

    Em uma época de ferramentas digitais, gostamos de acreditar que estamos no leme das nossas vidas, somos independentes e fazemos escolhas individuais. Puro romantismo. Navegamos cada vez mais em ondas e influenciados pelas redes sociais às quais nos conectamos.

    Às vezes não é fácil perceber isso, mas como empregados em empresas, avaliamos o nosso desempenho não tanto pelo dinheiro que ganhamos ou pelo que consumimos, mas pelo quanto ganhamos e consumimos em relação às outras pessoas que conhecemos.

    Num experimento citado no livro, foi perguntado quem preferia trabalhar numa empresa em que o seu salário fosse $ 33 mil e o de seus colegas $ 30 mil ou em outra, em que os ganhos fossem de $ 35mil e os de seus colegas $ 38 mil. O pessoal escolheu a primeira, mesmo sabendo que ganhariam mais na segunda empresa. O motivo da decisão é simples – nos importamos mais com a nossa posição relativa do que absoluta no mundo.

    Por isso que, inconscientemente, muitas pessoas preferem ser um peixe grande num pequeno lago. Ou seja, trabalhar numa pequena empresa, mas comparativamente ganhar mais que os seus colegas de trabalho. Uma vez mais, a rede molda nossos parâmetros de “sucesso”.

    E o que dizer dos relacionamentos numa sociedade que sempre esteve em rede? Para tristeza das solteiras e dos solteiros, segundo Christakis e Fowler, o ser humano não nasceu para viver sozinho. Pessoas casadas vivem até sete anos a mais. Têm mais laços sociais (os dois unem seus “mundos sociais”), as emoções são compartilhadas.

    As redes servem de combustível para o romantismo. Mas, por outro lado, pode ser decepcionante para quem acredita em amor à primeira vista.

    Se encontramos ou gostamos de alguém existe algum motivo. Algo ou alguém ligado às nossas redes – família, trabalho, academia – nos influenciou sem a gente perceber. Desconhecidos podem ter influência. Em estudo feito somente com mulheres, provou-se o quanto as outras influem na escolha de seus parceiros. Foram distribuídas fotos, e homens que estavam ao lado de namoradas atraentes nas imagens eram mais bem avaliados do que homens que apareciam sozinhos. Na sociedade em rede, é importante ter o aval de outra pessoa em um relacionamento.

    Para não passar em branco, Christakis e Fowler dedicam um capítulo às plataformas de redes sociais – Facebook, MySpace, Orkut – , mas abordam um ponto de vista diferente. Segundo os dois pesquisadores, nossos emails têm informações bem mais valiosas sobre as nossas interações sociais do que os chamados sites de redes sociais. Caixas de entrada e saída de emails indicam quem está mais em contato com alguém, quando e com qual frequência.

    Em outras palavras, o Gmail diz bem mais sobre a gente do que o Facebook. O primeiro tem dados valiosos, inseridos de forma passiva todo dia pela gente e que podem ser utilizados para formar redes. Será que não foi isso que de forma atrapalhada o Google tentou fazer com o Google Buzz? Uma rede social a partir de nossos emails? Ou será que vem daí o interesse do Facebook em lançar um serviço de email junto à rede social?

    O Poder das Conexões parece um “redes sociais for dummies” na medida em que traz todas as principais teorias ligadas à economia de rede. Seis graus de separação, número de Dunbar, Feedback positivo, Regras dos Três Graus. Todos elas estão lá acompanhadas de exemplos.

    Em certos momentos, o livro utiliza uma fórmula parecida ao do Freakonomics, ao mostrar diversas curiosidades inesperadas reveladas em pesquisas, como a de que a obesidade é contagiosa. Se existe alguém obeso em nossa rede, podemos ficar também. Ou ainda de que o ser humano anda em rede por uma questão de sobrevivência. Num campo aberto, você está mais seguro sozinho ou em rede com várias pessoas atentas a qualquer movimento?

    Ao mesmo tempo que podem minimizar o nosso poder individual, a ideia de livre-arbítrio, (quanto mais fortes os laços, mais as nossas ações são influenciadas pela rede), as redes sociais nos dão poder ao permitir que exercemos a nossa influência sobre os outros.  E o detalhe é que sempre tivemos essa capacidade de influenciar, sem precisar ser nenhuma celebridade da TV, do Twitter, do Chatroulette ou de qualquer coisa que venha pela frente.

    Veja também:
    Por uma internet em tempo giusto

    Crédito das fotos: Gaspi e Geyer


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