• A resposta do Grupo Abril aos elos fracos da corrente

    via Sketcheria de Montalvo em 03/02/10

    Depois de alardear um auto-elogio corporativo lambendo o próprio ego e apregoando virtudes questionáveis, o Grupo Abril recebeu da SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil - uma carta levantando uma outra opinião sobre estas posturas.

    Não é novidade para ninguém que as mega-editoras pagam valores cada vez menores, rompendo há muitos anos a linha do “preço baixo”, chegando a patamares irrisórios, risíveis, muito abaixo do que valeria um trabalho amador, até mesmo para os veteranos, extraindo deles o máximo possível, tanto em questões técnicas, como em prazos de pagamento extremamente “flexíveis” para dizer o mínimo, e também nas letras miúdas dos contratos socados goela abaixo dos seus colaboradores, arrancando o máximo de seus direitos patrimoniais.

    Isto não é uma conduta da qual uma empresa deveria se orgulhar, na verdade é uma questão vergonhosa, uma mancha na imagem corporativa que está se encardindo cada vez mais, por conta da própria atitude do Grupo Abril em ignorar e desrespeitar a opinião de seus colaboradores.

    Neste post você pode acompanhar a carta da SIB enviada ao Grupo Abril no final de 2009, à qual foi respondida com o texto indiferente, quase automático, no final deste texto.

    Ninguém precisa - nem consegue - denegrir a imagem de uma empresa do que ela mesma, com um texto destes, dirigido aos que fornecem conteúdo para suas centenas de publicações.

    No dia em que os ilustradores, redatores, fotógrafos e colaboradores em geral se cansarem disto tudo respondendo com um sonoro “NÃO” para toda esta relação comercial desequilibrada e humilhante, não haverá o que publicar, o que vender, e o que lucrar.

    As mega-editoras ainda não se deram conta de que não se vende papel em branco encadernado nas estantes das templárias mega-stores.

    Tudo que se vende é o conteúdo, que nós produzimos e nos deixamos vender por migalhas.

    A culpa, afinal de contas, não é da editora, que está muito confortável em seu castelo de vidro.

    A culpa é de quem aceita o estupro financeiro com um sorriso ridículo pregado na boca, trocando trabalho (outrora valioso e lucrativo) pela “vitrine” que a editora oferece, na esperança infantil que um dia será visto por alguém importante, generoso e paternalista, que pagará finalmente o que vale ao coitadinho do mendigo colaborador.

    Esta mentalidade subserviente, implantada ao longo de séculos de exploração escravagista, colonialista, militarista, totalitarista e populista nos amputou a capacidade de reação.

    Séculos de pelourinho perduram até hoje na memória coletiva da nossa sociedade, e nos fazem chorar calados, para dentro, sem demonstrar reação, sem verter uma lágrima, com medo de apanhar ainda mais.

    Por “apanhar ainda mais”, entenda-se: perder o emprego, perder o cliente, perder o patrão que nos trata feito cães.

    Isto acontece na política, na cadeia produtiva, nas hierarquias das empresas, e nas relações entre CONTRATANTES e CONTRATADOS, conforme consta nas letras miúdas dos contratos de cessão de direitos autorais.

    Eu demiti esta editora da minha carteira de clientes há muitos anos.

    Não preciso de clientes assim.

    Há muitas editoras pequenas que tratam, pagam e negociam com seus colaboradores de maneira respeitosa, igualitária e digna.

    O bom cliente é aquele que sabe reconhecer FINANCEIRAMENTE o seu parceiro de trabalho, remunerando bem, licenciando direitos justos, partilhando os lucros de forma que todos ganhem proporcionalmente bem, dentro do que cada um se propõe a fazer.

    Certamente a Editora Abril está agindo dentro da legalidade, como afirma no seu texto de resposta.

    É muito confortável se escorar na Lei, quando se é o elo mais forte da corrente.

    O que se questiona é outra coisa: Será que a corrente é capaz de se sustentar quando se romperem todos os elos mais fracos?

    Até quando haverão outros elos fracos na agenda, para substituição imediata e barata?

    Leia o texto enviado pelo Grupo Abril à SIB, em resposta ao questionamento de sua postura comercial em relação aos seus colaboradores, e tire suas próprias conclusões.

    From: Codigo de Conduta <CodigodeConduta@…>
    Date: Tue, 12 Jan 2010 16:02:00 -0200
    To: sib@…
    Subject: RES: Sobre o Código de Conduta do Grupo Abril

    Caros Senhores da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil

    Agradecemos seu contato com o Canal de Comunicação do Código de Conduta do Grupo Abril. Como a correspondência enviada não foi considerada uma questão de conduta, ela foi encaminhada à Auditoria Interna.

    Em conjunto com a área de Compliance e com o Departamento Jurídico, avaliamos os pontos levantados com os departamentos competentes. Nossas conclusões foram as seguintes:

    - A documentação analisada está em total acordo com a legislação vigente e de forma alguma contêm qualquer violação ao Código de Conduta;

    - Não existe abuso legal em nossas práticas, que acompanham as do mercado em que atuamos;

    - As condições contratuais são as mesmas normalmente utilizadas em trabalhos semelhantes.

    - Caso haja um ou mais casos concretos que desejem trazer ao Canal de Comunicação, permanecemos à disposição para atendê-los e fazer os encaminhamentos necessários ao devido tratamento.

    Atenciosamente,

    Posted via email from Léo Ferreira

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