• Entrevista Completa de Bill Watterson

    via Depósito do Calvin de noreply@blogger.com (Sisto Sexto) em 03/02/10
    Não é novidade que Bill Watterson é um cara recluso, averso a entrevistas. Desde que a tirinha acabou em 31 de dezembro de 1995, dá pra contar nos dedos as entrevistas que ele deu, sendo a última dada em 2005, quando respondeu algumas perguntas de fãs. Felizmente, o repórter John Campanelli do jornal Cleveland Plain Dealer conseguiu uma entrevista via e-mail com ele, e é esta que você pode conferir na íntegra abaixo.

    Repórter: Com quase 15 anos de separação e reflexão o que você acha que “Calvin & Haroldo” têm que foram além de apenas capturar a atenção dos leitores, mas sim, conquistaram o coração deles?

    Watterson: A única parte que eu entendo é o que entrou na tirinha. O que os leitores tiram dela cabe a eles. Uma vez que a tirinha é publicada, os leitores transportam suas próprias experiências pra ela, e o trabalho cria vida própria. Cada um responde de maneira diferente à diferentes partes.

    Eu apenas tentei escrever honestamente, e eu apenas tentei tornar esse mundinho divertido para eles verem, então as pessoas poderiam arranjar um tempo para lê-lo. A minha preocupação era essa. Você mistura um monte de ingredientes, e de vez em quando a química acontece. Eu não sei explicar porque a tira deu tão certo, e não acredito que conseguiria fazer de novo. Um monte de coisas tem que dar certo ao mesmo tempo.

    Repórter: O que você acha do legado da sua tirinha?

    Watterson: Bem, não é um assunto que me mantém acordado à noite. Os leitores sempre decidirão se um trabalho é expressivo e relevante pra eles, e eu consigo viver com qualquer que seja a conclusão que eles tirem. Mais uma vez, minha parte praticamente acaba quando a tinta seca.

    Repórter: Leitores se afeiçoam aos seus personagens, então é compreensível o luto em que ficaram – e que ainda estão – quando a tirinha acabou. O que você gostaria de dizer a eles?

    Watterson: Isto não é tão difícil de entender como as pessoas julgam. Ao final de 10 anos, eu disse praticamente tudo o que eu tinha para dizer.

    Sempre é melhor deixar a festa mais cedo. Se eu tivesse ido junto com a popularidade das tiras e me repetir por mais cinco, 10 ou 20 anos, o povo que agora está de "luto" para "Calvin e Haroldo" estaria me desejando a morte e aos malditos jornais repetindo tirinhas antigas como a minha ao invés de mostrar novos e melhores talentos. E eu teria que concordar com eles.

    Acho que um das razões de “Calvin & Haroldo” ainda ter audiência é por não ter seguido com eles até se esgotarem.

    Eu nunca lamentei ter parado quando parei.

    Repórter: Por seu trabalho ter tocado tanta gente, os fãs sentem uma conexão com você, ele querem saber mais sobre você. Eles querem mais trabalhos seu, mais Calvin, outra tira, qualquer coisa. É como uma relação entre estrela do rock e fã. Devido a sua aversão a atenção, como você lida com isso hoje em dia? E como você lida com isso sabendo que vai te acompanhar pelo resto da vida?

    Watterson: Ah! A vida de um cartunista de jornal – como sinto falta das fãs, das drogas e dos quartos de hotel imundos!

    Mas, depois dos meus dias de “estrela do rock”, a atenção do público diminuiu bastante. Em tempos de Cultura Pop os anos 90 foi há séculos atrás. Há ocasionais momentos de estranheza, mas na maior parte do tempo eu apenas sigo minha vida calma e tento fazer o melhor para ignorar o resto. Tenho orgulho da tira, sou imensamente grato pelo sucesso, e me sinto verdadeiramente lisonjeado pelas pessoas ainda a lerem, mas eu escrevi “Calvin e Haroldo” quando tinha meus 30 e hoje estou a milhas deles.

    Um trabalho artístico pode ficar congelado no tempo, mas eu tropecei pelos anos como qualquer um. Eu acho que os grandes fãs entendem isso, e estão dispostos a me dar algum espaço para seguir com minha vida.

    Repórter: Quando os Correios dos EUA lançarem um selo de Calvin, quanto tempo você vai levar para mandar uma carta com ele no envelope?

    Watterson: Imediatamente. Vou subir na minha carruagem e encaminhar um cheque para minha assinatura do jornal.

    Repórter: Como você quer que as pessoas se lembrem do menino de 6 anos e seu tigre?

    Watterson: Eu voto em: “Calvin & Haroldo, a Oitava Maravilha do Mundo”


    Agradecimento especial ao Osni Passos do Blog de um Não-Blogueiro que indicou a entrevista.
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    Posted via email from Léo Ferreira

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